18.8.10

Nostalgia

O barquinho vai sinuoso e frágil na imensidão do rio, produzindo linhas coloridas na água. Duas figuras sombreadas vão remando em direção ao sol que se inclina atrás do mato.
O vento é fresco e o ar cada vez mais úmido. O som dos pássaros alegres vai sendo substituído pelo das corujas soturnas e os grilos, sapos e rãs. Engana-se aquele que acredita que cada minuto a mais é um a menos de luz; as estrelas vão se espalhando pela escuridão do céu salpicando a gente de luz. A lua não está lá, mas hoje ela não precisa nos acompanhar.
Depois de ver os barcos atracando no pequeno píer, estendo minha canga sobre a plataforma ainda morna e me deixo encantar pela beleza magnífica da natureza – ficaria aqui por uma eternidade. Será que quando a gente morre é assim?
Sinto o vento cada vez mais fresco e minha pele se arrepia - nada me faria sair daqui agora. Deito de costas, com os joelhos dobrados à minha frente, formando a silueta de duas montanhas, fico alguns minutos pensando sobre as minhas formas e quanto gosto delas na penumbra, mas meu narcisismo desaparece diante da sensação de conforto de estar neste lugar.
O calor que sobe da plataforma me aconchega e quase durmo, mas é hora de deixar o paraíso, minha vida não é aqui, fica distante e bem mais agitada que isso.

E mais uma vez a despedida me causa dor, angústia e tristeza. Porque é tão difícil pra mim deixar algo pra trás? É sempre custoso colocar um ponto final e virar a página!
Penso nos livros que sempre li várias vezes e me pergunto porque a vida não podia ser assim sempre: Deu vontade de viver aquele capítulo da viagem ao paraíso – pronto – é só abrir na página 56.


Minhas crises nostálgicas não são suficientes pra viver tudo de novo. Sempre fica aquele nozinho no peito – por mais que eu guarde os cheiros, os gostos, os sons – falta algo, é como comer pastel de vento, pão-de-mel sem chocolate, suco de limão sem azedo, pão francês sem miolo...

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