23.6.12

Desilusão cura, Doutor?

Há cinco dias chove, e hoje ao acordar não foi diferente, ouvindo o barulho dos pneus que passam na rua ao lado em contato com a água pude saber que o mundo continua cinza junto comigo.
Todos os dias tenho a mesma sensação ao acordar - em um estalo passo do estado calmo e tranquilo do sono para um amargor que enche a minha boca e coração e lembro novamente de tudo que aconteceu.
Como é difícil acordar!
Agora entendo os bêbados e drogados; a letargia parece bem mais atraente do que viver quando se sente dor. Embora eu tenha sido forçada a um período de sobriedade, agora que posso beber, não me parece uma boa saída. Pra ser sincera estou com um pouco de asco desse tipo de atitude - minha e dos outros. Estou tão cansada de mentiras que não suporto a ideia do álcool "mentir" a realidade pra mim.
O mundo todo parece tão podre e hipócrita!
Olho pras pessoas e fico imaginando o que elas escondem por trás da aparência segura do convívio social, quais seriam suas falhas de caráter e porque elas maquiam tanto seus defeitos?
Culpa da sociedade hipócrita em que vivemos - condena aqueles que expõem seu verdadeiro eu à mostra, pois não se trata de algo agradável e glorifica os que se escondem por trás das máscaras e aparentes bons comportamentos.
Todos somos tão cheios de defeitos. Não seria mais agradável saber as pessoas capazes de aceitarem nossos defeitos ao invés de barganharmos nossa imagem com mentiras pútridas!?
Estou cansada e amarga, mas acredito que encontrei uma maturidade emocional que não permitiu me derrubar dessa vez. Tenho tantos planos pela frente e talvez essa seja minha tábua de salvação, ou talvez eu esteja me curando...

31.5.12

O que é que a gente veio fazer aqui?


Ficou tudo ali no chão, a mala não se fez sozinha, a lista que eu nem terminei de escrever não se cumpriu nem recebeu um tick como eu imagine.
Amanhã eu começo uma grande jornada, mas eu não consigo nem sair da minha cama pra calçar os sapatos. A despedida no aeroporto que eu ensaiei mentalmente tantas vezes se desfez como poeira ao vento e o meu medo descabido de atravessar aquele portão de embarque cresceu tanto que parece um monstro que vai arrancar a minha cabeça, abrir a minha barriga e dilacerar minhas vísceras.
Sonhei que ia viajar hoje e que minhas malas ainda não estavam prontas e eu me lembrei das coisas que estão na sua casa e pensei no que eu queria levar e não ia dar tempo e acordei com uma sensação de urgência que morreu no mesmo instante em que eu abri os olhos e fechei imediatamente porque eu não queria acordar. Eu não consigo criar coragem pra continuar o que demorei tanto pra ter coragem de começar.
Que medo de descobrir que eu te amo de verdade, que medo de descobrir que eu sou um ser humano de verdade e não isso que eu acho que eu sou e que eu nem sei...
Porque eu sofro pra viver? Porque eu vivo pra sofrer? Porque de repente tudo vira um quarto branco sem parede, nem teto, nem chão e eu não sou nada no mundo, e viver fica tão estranhamente sem sentido?
Aí você me liga e eu me pergunto se foi pra isso que eu vim parar aqui. Como é que eu vou viver sem ter você me puxando pra vida, como se eu emergisse de algo viscoso que me prende aqui embaixo!?
Então eu me pergunto se foi isso que você veio fazer aqui - me ensinar a ser um ser humano de verdade e com isso garantir o seu lugar no céu, se é que isso existe...

7.3.12

Quantas vezes...

Quantas vezes eu precisei matar você dentro de mim pra poder te amar de novo... E quantas vezes eu procurei outro de você em você mesmo... E nas minhas inconstâncias precisei criar vários de você pra poder amar, odiar, culpar e idolatrar... Será que algum dia eu encontro você aí dentro de verdade?

Reconheço tão pouco o que enxergo quando te olho nos olhos... Já te perdi em olhares e quase corei por isso, em compensação quantas vezes te amei de olhos fechados com tanta intensidade...

E quantas vezes vi no seu olhar o perdão disfarçado na indiferença e o desejo de passar a mão na minha cabeça convertido em ríspida desaprovação...

Quantas vezes ainda vou me questionar e quantas vezes vou me arrepender até achar o equilíbrio que nunca existiu em mim... O mesmo equilíbrio que você me trouxe aos poucos do seu jeito tão desequilibrado!?