13.9.05

Ele sempre gostou de música!

Muito talentoso e dedicado, aprendeu a tocar de ouvido, é autodidata e seguiu as partituras. Numa de nossas muitas viagens Atibaia/São Paulo e vice-versa, perguntei porque ele não havia seguido a carreira de músico, se era o seu maior desejo quando mais novo. Ele sorriu tristemente, suspirou – “Porque músicos morrem de fome!”...
Quando ele toca, eu sinto a música que sai da alma dele e entra nas nossas. Vejo a alegria que ele tem de poder participar pra quem está ao seu redor todo o amor que ele tem na música! Não há quem não se encante pelas dedilhadas no violão de doze cordas; ainda mais com todo o sentimento que ele põe na música; as travessuras no piano e outros instrumentos que se tornam brinquedos em suas mãos.

Nessa noite eu assisti a todo o espetáculo pensando no quanto gostaria de fazer parte daquele mundo lá do palco, queria saber brincar com as palavras da mesma maneira que o arlequim saltitante - não temer a métrica ou a rima, as concordâncias e a falta da criatividade, simplesmente permitir que as palavras me utilizassem pra dançar harmonicamente numa ciranda de criança – esquecer que muitas vezes eu as uso para ferir e transmitir minha revolta, desilusão com o mundo e com as pessoas.
Enquanto eu sentia tudo isso, pensei muito naquele garoto que poderia ter virado músico, artista realizado e estar em cima daquele palco. Garoto que hoje se tornou um profissional responsável, competente, estressado, que vive viajando, mas sabe que logo a hora da realização vai chegar! Nessa mesma noite eu chorei, porque quando olhei p/ poltrona ao lado no teatro, lá estavam os olhos do garoto novamente, como se ele tivesse se transferido p/o palco e nunca mais alguém o faria desistir de seguir o seu caminho na arte e na música, chorei por poder compreender um pouquinho que seja desse sentimento pela arte.
Quando éramos crianças, eu o odiava, talvez porque não soubesse lidar com toda a admiração que sentia por ele. Fomos nos tornando adultos, amigos, e cada um seguiu seu caminho de maneira diferente. Eu me afastei da arte de construir com a alma p/ construir com os números, ele trocou o toque dos dedos na corda de um violão por um teclado de computador. Eu continuo admirando a maneira como ele encara a vida. Deveria ser o cara mais revoltado da face da Terra por não conseguir se realizar profissionalmente, mas leva a vida como um verdadeiro aprendizado, pois sabe que a sua hora está reservada. Eu ao contrário, me frustrei muito com as escolhas profissionais que fiz. Talvez agora seja o início de um novo caminho a trilhar, sem pressa de chegar a algum lugar, mas com a certeza de que nesse caminho posso extravasar com as palavras com o mesmo amor que o meu “Pimo” tem com a música. Ele não é o melhor instrumentista que eu conheço, tampouco quero ser uma escritora extraordinária, mas prometo colocar mais amor no que escrevo daqui em diante, pra ser mais feliz e completa, ao menos em uma das coisas que faço em minha vida.
Aos que gostam das minhas revoltas, fiquem tranqüilos porque elas não irão se extinguir e aos que preferem meus tempos de calmaria, aproveitem bastante porque estou novamente encantada pela vida!

...Fui!

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